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Nasci e cresci em Floripa e sempre gostei de desenhar, escrever, musicar... A proximidade do mar me fez apaixonar por surfar e acho que o mar me ajudou a entender muito do que eu sou e gosto.


Como iniciou no mundo do audiovisual?

Quando era pequeno eu sonhava em criar desenhos animados. Quando adolescente eu não tinha mais uma vontade específica. Eu tinha recentemente tomado gosto por edição de vídeos, editando eu e meus amigos andando de skate e surfando, e isso evoluiu pra pegar imagens dos meus filmes preferidos de surfe e editar eles de um jeito próprio. Era “The Bruce Movie, Brokedown Melody, First Chapter” e o que mais eu conseguisse encontrar. Era um prazer, mas nem por um segundo pensava em filmar ou transformar em profissão.

Fiz vestibular pra artes plásticas e tirei 1 de 0 a 20 em desenho na parte vocacionada da prova, foi bastante irônico porque eu amava (e amo) desenhar. Nisso, um amigo francês que tinha uma empresa de decoração de interiores e exteriores em Bordeaux me convidou para trabalhar por dois meses com ele na construção física dos projetos. Quando o trabalho acabou, pesquisei sobre Hossegor - que era perto, porque sabia que tinha mar e eu queria surfar. Perguntei pro Pablo Aguiar, quem eu admirava e escrevia às vezes, se ele conhecia alguém por lá baseado no simples fato de ele ter postado uma foto da torre Eiffel no Orkut.

Ele falou do Pietro França, que me recebeu de braços abertos e mudou minha vida de um jeito bem bonito: me apresentando uma câmera pela primeira vez. A partir daí tudo aconteceu sem eu perceber, quando vi, trabalhava com filmes.




Você sempre esteve muito ligado ao mundo do surf. O que te levou pra esse ramo de produção? O que mudou desde que você começou?

Acho que o que me fez sentir bem nesse universo foi a possibilidade de expressar sentimentos.

Às vezes é difícil descrever ideias, sentimentos, posicionamentos ou tantas outras coisas com palavras pra mim…e descobri nos filmes uma forma disso, de compartilhar de um jeito subjetivo, abrindo espaço pro receptor daquilo interpretar e digerir do seu próprio jeito. Isso pra mim foi mágico. Eu queria falar do mundo e usei o surfe como plataforma para isso pelo que o surfe representava pra mim e pra minha visão de mundo e coexistência ser humano-natureza.

O que mudou foi o interesse dos seres humanos em absorver imagens por tanta opção disponível - eu acho, de qualidade inclusive. É interessante de ver de um ponto de vista social e curioso também.

O que mudou foi o interesse dos seres humanos em absorver imagens por tanta opção disponível acho, de qualidade inclusive. É interessante de ver de um ponto de vista social e curioso também.


Você já realizou projetos com inúmeras pessoas e empresas, seu mais recente foi em um ramo completamente novo, no caso o snowboard com o Nico. Como surgiu a ideia desse projeto? Quais foram os desafios e como foi produzir com o Nico e toda sua hiperatividade?

Eu estava indo pra Itália para filmar um projeto de gastronomia. Quando o trabalho se confirmou escrevi na hora pro meu amigo Vernon, que mora parte do tempo na Suíça e outra parte num barco pelo mundo - e caso ele estivesse por lá, eu tiraria uns dias a mais depois do trabalho para visitá-lo, já que eram só algumas horas de trem da Itália para lá.

Ele estava e disse que ia fotografar um snowboarder na Itália e disse pra eu ir junto. O snowboarder era o Nico e quando cheguei com câmera e equipamentos, a gente somou dois mais dois e decidiu que filmaria essa visita.

Passando esses dias na casa do Nico, a gente conversou sobre o quanto ele é antes de tudo uma criança e era isso que a gente queria passar no filme. Ele é um figura, como dá pra ver nas imagens, e queria muito dar espaço pra isso.

Foi engraçado demais, a hiperatividade dele é absurda, hehe. Para gravar a narração dele tivemos que segurar ele o tempo todo porque não parava um segundo de se mexer e fazer barulho estragando o áudio. Foi bem engraçado.



Estando sempre muito ligado à natureza em seus projetos, como você vê o mundo do audiovisual no futuro após todas as manifestações e depois de termos passado por uma pandemia? Quais são os valores que os profissionais dessa área devem transmitir?

É uma boa pergunta…com duas respostas:

Sobre a pandemia, difícil demais de saber, os impactos tem sido bem grandes e vejo que muita adaptação vai precisar ser feita.

Quanto as manifestações, o audiovisual precisa se retratar e reformular com muita urgência.

Filmes, novelas, clipes, publicidades... tudo tem uma influência muito maior na sociedade do que se pensa, o cinema teve papel principal na normalização do racismo, no enaltecimento do branco como ideal e representando pessoas negras como vândalos, criminosos e intelectualmente inferiores -  e até demoníacos em tempos de segregação. A “desconstrução” que vemos em tempos recentes tem se dado aos poucos e somente por pressão social.

Mesmo nesse movimento de inclusão, o papel dos negros é colocado de forma que embranquecida e coadjuvante ou quando são protagonistas é para tratar temas como escravidão e segregação, pra se enquadrar no imaginário branco e é aí a raíz do problema: a indústria audiovisual é dominada por brancos, é isso que tem que mudar. O audiovisual tem um poder transformador que monopolizado, não só rouba a voz de muitos, como distorce a realidade.

Esse momento é importantíssimo para que todos os brancos no audiovisual façam o mesmo que deve ser feito na vida em si: estudar, escutar e finalmente assumir que o microfone que nos foi dado não é nosso, e não é um favor largar mão dele, é nosso dever. É hora de soltar o protagonismo e escutar de quem sofre, como podemos deixar de ser nocivos.

Vendo trabalhos de diretores como Melina Matsoukas, Jordan Peele, Spike Lee e tantos outros diretores que tem conseguido criar suas artes, vemos o quanto isso é vital e inspirador pra quem é oprimido. Arte liberta. E tem que ser pra todos. Quem sabe estamos nos aproximando disso?


Obrigado Loïc por nos proporcionar a oportunidade de explorar e conversar um pouco sobre seu trabalho. Seus filmes e imagens transmitem uma leveza e sinceridade incrível!